sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Por que Dilma cresce e Serra cai


Carta Capital 


Todas as pesquisas estão mostrando que a tendência revelada inicialmente pelo Vox Populi estava correta. Dilma está crescendo nos últimos dias e Serra está caindo
Estive conversando com o prefeito Ary Vanazzi, coordenador executivo da campanha Dilma no Rio Grande do Sul  desde o primeiro turno. Tarso Genro, eleito governador, assumiu a coordenação política da campanha neste segundo turno, mas Vanazzi  continua na linha de frente. Ele me deu alguns dos motivos para a vitória de Dilma. “Primeiro, estamos tendo uma mobilização social e política espontânea para combater o obscurantismo”, afirmou. “Segundo, a gente ampliou muito a  campanha e hoje temos 80% das forças políticas atuantes no Rio Grande do Sul com a Dilma. Nós vencemos no primeiro turno e agora podemos ampliar a vantagem.”
Quando se trata de votos, Ary Vanazzi sabe do que está falando. Prefeito de São Leopoldo, cidade da região metropolitana de Porto Alegre, Vanazzi é uma espécie de Lula do município. Foi reeleito com 80% dos votos, governa com sete partidos e tem trânsito fácil com todos prefeitos do estado, independentemente de sigla partidária.
O desespero do marketing de Serra
Os erros na campanha Serra são muito grandes. O episódio da bolinha de papel revela o desespero de seus marqueteiros. Ao verem a derrota a sua frente, estão tentando de qualquer forma construir fatos que possam mudar as tendências.
Na passagem para o segundo turno, a direita serrista trouxe seu arsenal tradicional. Aborto, criancinhas, Deus, terrorismo, ética na política…. Serra é do bem, todo o resto é do mal. Uma receita lacerdista completa.
Serra, que no primeiro turno era um candidato de centro-direita, aliado com a direita, e que buscava o apoio do centro, no início do segundo turno jogou-se, literalmente, nos braços dos demos e passou a se apresentar  como o baluarte da direita radical. Diante de uma campanha Dilma paralisada nos primeiros dias do segundo turno, a linha “agressiva de direita”  de Serra pareceu fazer sucesso e ganhar apoiadores. Seus marqueteiros confundiram o crescimento natural do segundo lugar que vai para o segundo turno com adesão ao discurso de campanha rebaixado e obscurantista.  
Na verdade, a agressividade de sua campanha, combinada com a fragilidade de seu discurso, acabou afastando do tucano o eleitor que estava em dúvida entre Dilma e Serra.  Ao invés de crescer, Serra estava afastando o eleitor de centro e empurrando-o para votar em Dilma. Além disso, a  defesa da ética na política por parte de Serra começou a ser desnudada pelo episódio Paulo Preto. Logo a seguir veio a contratação da filha de Paulo Preto em seu gabinete. E o tema do aborto fez água quando foi divulgado que sua mulher praticou o ato com seu consentimento… Um por um, todos os pilares do discurso de Serra foram sendo derrubados pela revelação de fatos concretos de sua trajetória.    
Ao mesmo tempo que havia estes erros na campanha de Serra, a campanha Dilma conseguiu reagir. Primeiro, a própria Dilma foi para o ataque no primeiro debate. Ali, a militância lulista que ainda podia ter dúvidas quanto a disposição e qualidade da candidata, sentiu firmeza e capacidade de liderança em Dilma. Depois, foram feitas uma série de ações positivas. A mobilização dos governadores eleitos, da cultura, da sociedade, com o lançamento de inúmeros manifestos de apoio, a revelação dos podres do adversário…. Tudo isso construiu uma base de reação que conteve e reverteu o ataque direitista raivoso da campanha Serra.
Nos últimos dias, o que temos assistido é o mais puro desespero na campanha tucana. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, veio atacar o Vox Populi, depois atacou Lula…. Na entrevista na Globo, Serra mais pareceu candidato a Papa que a presidente. Parecia um santo. Neste contexto, a bolinha de papel foi o desdobramento da entrevista. Já era preciso tentar construir uma reversão das tendências de qualquer maneira.
Penso que não deu certo. Nem mesmo a tentativa da Globo desta quinta feira a noite, apresentando um segundo objeto “transparente” (Muito apropriado isso de ser transparente, não é verdade? Assim não dá pra ver, não é mesmo?), pode reverter mais o efeito Rojas na imagem de Serra. O mais provável é que o tucano continue caindo ainda mais nos próximos dias. Mas todo cuidado é pouco.
Quando pousou de santo na entrevista da Globo, Serra também tentou combinar isso com a defesa da continuidade de Lula e com propostas sociais agressivas, como o 13º para o Bolsa Família e outras. Ou seja, a operação de marketing do Serrarojas já tinha um norte claro: era preciso rapidamente reposicionar o tucano não mais como aríete dos demos, mas como um candidato de continuidade do que Lula tem de bom  e ao mesmo tempo vítima dos radicais do PT ….
A busca dos candidatos desesperados para tentar, diante de uma derrota certa, retirar a campanha do terreno da política e colocar no terreno emocional é recorrente na política brasileira. No ambiente ainda autoritário do Brasil, a cada eleição, seja ela municipal, estadual ou nacional, os atores em desespero tentam sempre a mesma jogada.  Querem, num golpe de mão, numa dramatização midiática, roubar a cena, deslocar o adversário e vencer a eleição.
Nos próximos dias, é preciso ter muito cuidado. Penso que a campanha Serra não tem limites. Os tucanos são capazes de fazer qualquer coisa. São capazes de realizar atentados, se for o caso. A campanha Dilma tem razão. Eles estão atrás do Pré-Sal. Querem a riqueza do Brasil de volta pras mãos deles. E  contra isso só há um remédio: defender a Dilma de modo tranquilo, sereno, com argumentos, sem xingar o adversário, identificando as dúvidas e angústias de cada eleitor em particular e trazendo todos para  o lado do Brasil que quer seguir mudando.
No próximo dia 31, não basta vencer. É preciso vencer bem, com uma grande margem de votos. Do contrário, teremos um governo Dilma acossado pelo PIG e com audiência.
Os números da vitória
Nunca esqueça. Pesquisa não ganha eleição, o que ganha é voto na urna. Portanto, não dá para diminuir o ânimo. Mas as tendências são claras.
Desculpe despejar aqui tantos números, mas é preciso.
Gráfico compara dados entre os institutos de pesquisa

Os números levados em conta são sempre os válidos. Conforme o Vox, Dilma subiu de 55 para 57% e Serra caiu de 46 para 43 entre os dias 11 e 18. O Sensus do dia 19 mostra a mesma tendência. Dilma subiu de 52 para 53% e Serra caiu de 48 para 47%. Já no Ibope, divulgado dia 20, o crescimento é bem maior: Dilma subiu de 53  para 56 dos votos válidos e Serra caiu de 47 para 43.  O único instituto que não havia mostrado foi o Datafolha, com os mesmos 54 para Dilma contra 46 para Serra divulgados dia 08 e dia 15. (Ver números desde dia 22, que também confirmam a tendência).
De fato, houve um momento em que, aparentemente, a campanha do tucano poderia ter crescido e  ultrapassado Dilma. As pesquisas revelam que esse momento foi por volta do dia 13. De lá para cá, Dilma reagiu e Serra caiu ou estagnou.
Na média de todos os quatro institutos, a diferença neste dia 20 era de 10%. Até dia 31, são mais dez dias de combate. Os tucanos têm de fazer pelo menos meio porcento dos votos dos brasileiros por dia, se quiserem vencer. Os apoiadores de Dilma, com gordura para gastar,  precisam apenas resistir. 
Penso, todavia que não é isso que vai acontecer. A campanha tucana, nos próximos dias, vai ficar cada dia mais nervosa e desesperada, enquanto o eleitor, calma e serenamente, vai atender ao chamado de Lula. O eleitor brasileiro vai votar em Dilma.
Estava escrito. Vai acontecer.


Como a Globo manipulou o “atentado” a Serra no Jornal Nacional

Portal Terra

Foi mais ou menos como num jogo de futebol: o zagueiro encosta no atacante, o atacante se atira dentro da área, rolando, se contorcendo, na esperança de que o árbitro apite um pênalti. 

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa

Mas as câmaras são soberanas. Elas mostram que o zagueiro mal tocou no centroavante, que o atacante se atirou, que não está machucado, que está simulando. Ainda assim, alguns narradores gritam: "Pênalti!". E no dia seguinte, os analistas vão bater boca o dia inteiro: foi, não foi, o juiz acertou, o juiz roubou.

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Na cena reproduzida pelo Jornal da Record, o candidato José Serra vem caminhando, sorridente, pela rua do comércio de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. Vem cercado de correligionários e seguranças. Mais adiante, seu caminho está bloqueado por uma passeata de petistas, que podem ser identificados por suas bandeiras vermelhas.

A comitiva do candidato oposicionista segue na direção dos adversários, arma-se um rápido entrevero, no qual um petista é agredido por três acompanhantes do candidato Serra, que está abrigado à porta de uma loja.

Apartam-se as brigas, Serra retoma a caminhada.

Então, alguma coisa o atinge na cabeça.

Pela câmara da TV Record, observa-se que o candidato apenas passa a mão na cabeça, constatando que não está ferido. É levado, então, por seus acompanhantes para um hospital.

Corta para o médico que o atendeu. A frase é clara: ele não tem nem um arranhão. A reportagem esclarece: o candidato foi atingido por um rolinho de plástico, um desses adesivos de campanha amarrotado.

Agora, a mesma cena no Jornal Nacional, da TV Globo: tudo quase igual, exceto no momento em que José Serra é atingido. Substitui-se, então, a imagem em movimento, que mostra apenas um susto da vítima, por uma fotografia, tirada de cima para baixo, de efeito muito mais dramático.

Quando chega o trecho da entrevista do médico, sua voz desaparece e em lugar da versão oficial do hospital entra o locutor, que apaga a informação de que o candidato não sofreu sequer um arranhão e a substitui por uma versão mais grave. A encenação se completa com o candidato sendo entrevistado, sob uma tensa luz azulada, com olhar de vítima.

Simulando uma contusão

O episódio, condenável sob todos os aspectos, deve, no entanto, ser visto como resultado da irracionalidade e radicalização da campanha eleitoral. Mas as versões apresentadas pela imprensa merecem uma análise à parte.

Uma curiosidade: quem teria descido do Olimpo global para comandar a edição de tão importante reportagem? Que critérios do manual de ética e jornalismo da Rede Globo foram brandidos para justificar a transformação de um episódio banal, mais do que esperado no ambiente de conflagração que os próprios candidatos andaram estimulando, em uma crise republicana?

As evidentes diferenças nas edições do Jornal Nacional, muito mais dramático, e do Jornal da Record, que tratou o episódio com mais naturalidade, sem deixar de condenar os excessos de militantes, têm a ver com jornalismo ou com engajamento eleitoral?

No boletim online do Globo, distribuido às 14h18 da quarta-feira, "Serra é agredido durante enfrentamento de militantes em ato de campanha no Rio".

Na edição de papel, primeira página do Globo, "Serra é agredido por petistas no Rio". No complemento, a informação alarmante: por orientação médica, o candidato cancelou o resto da agenda e submeteu-se a uma tomografia num hospital da Zona Sul.

Título na primeira página do Estadão: "No Rio, petistas agridem Serra em evento".

Na Folha, em foto menos dramática, "Serra toca local em que foi atingido por um rolo de adesivos…"

Quanto pesa um adesivo de campanha enrolado? Cinco, dez gramas?

E a tomografia? É resultado da conhecida hipocondria do ex-governador ou parte da estratégia para transformar um episódio grotesco e banal em atentado político? Como uma bolinha de papel, dessas que os alunos atiram uns nos outros nas salas de aula, poderia virar motivo de comoção nacional?

Em seu artigo na edição desta quinta-feira [21/10] da Folha de S.Paulo, a colunista Eliane Cantanhêde transforma o projétil de papel em "bandeirada" na cabeça e afirma que José Serra, literalmente, apanhou na rua.

Quanto vale um jornalismo dessa qualidade?

A chamada grande imprensa perdeu completamente as estribeiras.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Em 2006 todas as luzes do PIG eram para Heloísa Helena, agora são para Marina. Depois virá o ostracismo.

Respondendo a uma sabatina do Estadão em 02 de setembro, a candidata do Partido Verde à presidência da República Marina Silva disse: "Não é utópico imaginar ser possível governar com gente boa de todos os partidos. José Serra já convidou a mim e a Dilma para fazer parte de seu governo". Isso depois de defender um "realinhamento histórico do PT com o PSDB.

Apoiada hoje por um setor da FIESP (seu vice é dono do grupo Natura), Marina, desde os tempos de ministra de Lula, cultivou relações com o imperialismo dos EUA, cuja imprensa a trata como "pop star".  Começou pelas ONGs (Greenpeace, WWF), e igrejas, depois chegou às multinacionais, com a liberação dos transgênicos, aos "investidores", com a concessão ds florestas à iniciativa privada.

Marina escolheu sair do governo Lula divergindo de uma lei favorável aos ruralistas, passando uma imagem de "esquerda". Coisa que dentro do PT ela nunca foi. No Acre, seu Estado, ela já defendia aliança com o PSDB há 15 anos!

Ao longo de 2009, setores do MST e a direção do PSOL (inclusive do grupo do ex-dirigente do PT, João Machado, ligado ao chamado "Secretariado Unificado") chegaram a cortejar Marina par encabeçar uma "frente eleitoral". 

Como se sabe, a presidente do PSOL, Heloísa Helena, manteve seu apoio à Marina até hoje, mesmo tendo o partido lançado Plínio à presidência.

 PARA QUAL POLÍTICA?

Mas afinal, para aplicar qual política Marina quer unir PT e PSDB? 

* Temos de reduzir o gasto público fazendo com que cresça metade do crescimento do PIB (...) vou reduzir impostos".

*  Minha posição pessoal em relação ao aborto é clara: sou contrária (mas sou a favor do plesbiscito para decidir esta questão)

*  Numa Constituinte exclusiva que eu defendo teríamos de colocar a reforma tributária, previdenciária e  a política".

Uma reforma para avançar ou uma contra-reforma? A resposta à questão-chave do salário mínimo revela:

*  Não é possível assumir compromissos de aumento real do salário mínimo. É preciso avaliar como estão as contas públicas".

Ora, desde a ditadura militar é isso que ouvem os trabalhadores. Com muita luta da CUT, no governo Lula isso começou a mudar com a conquista de aumento real de 54% em 7 anos.  Mada nada está garantido para o ano de 2011.  Mas, com Marina no governo. como se vê, seria ainda mais difícil!.

Qualquer trabalhador pode entender: Marina na verdade, não traz nada de novo, é apenas mais uma que passou para o lado dos patrões. Neste caso, dos patrões moderno que querem um união com PT e PSDB juntos no governo federal para aplicar metidas de ajuste, corte de gastos etc. Todo o contrário da democracia. 

Mas é claro, tudo isso pintado de verde para ficar na moda. 

Comentário: quando Marina era Ministra do Meio Ambiente, os mesmos jornais que hoje a paparica eram os jornais que a chamavam de incompetente. Na verdade, Marina é uma laranja do PIG para levar as eleições de 2010. No entanto, o povo já entendeu toda a jogada, como aconteceu em 2006 quando todas luzes do PIG eram para Heloísa Helena.

Rede Globo, Folha, Veja, Estadão travestidos de "verdes" para levar a eleição para o segundo turno.

Jornal O TRABALHO, nº 681 - 8 a 22 de setembro de 2010

Nem todos abandonaram Serra. Gilmar ficou

Brizola Neto

A sessão de hoje do Supremo Tribunal Federal será marcada por um enorme constrangimento. Já estava evidente, pelo placar de 7 a 0 em favor da desnecessidade da apresentação de dois documentos na hora do voto que a questão era juridicamente clara.
Já foi  miúdo – embora regimental – o pedido de vistas pelo Ministro Gilmar Mendes, apenas para protelar uma questão sem grande complexidade e  já resolvida pelos demais juízes.
Agora, porém, com a revelação da repórter Cátia Seabra de que esse gesto veio depois de um telefonema de José Serra, Mendes está numa situação vexatória.
É sabido, há dias, que o serrismo apostava numa alta abstenção e que, nela, se incluiriam aqueles que, desinformados, não levassem o documento com foto e o título para votar, exigência da nova lei, em relação à qual eu e muitos deputados “dormimos no ponto” e deixamos passar.
O STF vai corrigir esta distorção da lei, que poderia privar centenas de milhares de brasileiros, em especial os mais humildes, do direito de voto.
Parece que incorrigíveis, mesmo, só as atitudes do ministro Gilmar Mendes e de José Serra

domingo, 24 de janeiro de 2010

As perguntas que todo paulistano e paulistas deveriam fazer para os problemas do Estado de São Paulo.


Carrara: Quando a doce chuva se torna inimiga

Você é um paulistano desesperado? Então, fique sabendo...


Desgoverno, caos e sofrimento humano na degradada São Paulo


por Mauro Carrara

Você também não aguenta mais viver em São Paulo? Não vê retorno nos altíssimos impostos pagos ao Governo do Estado e à Prefeitura?

Você já se cansou de passar horas e horas no trânsito? Já não suporta ver semáforos quebrados ou desregulados? Já se indigna com a indústria de multas?

Já precisa tapar o nariz para andar pelas ruas lotadas de lixo?

Já teme perder seu carro numa enchente relâmpago?

Já se apavora ao saber que a cidade praticamente não tem mais polícia, e que são suas orações que protegem seus familiares nos trajetos urbanos?

Já se questiona se o suor do trabalho não é suficiente para lhe garantir um mínimo de eficiência nos serviços públicos?

Já se pergunta por que a imprensa nunca lhe dá respostas?

Já nota que o jornal e o portal de Internet nunca lhe fornecem a explicação que você procura?

Talvez, então, você esteja no grupo dos 57% de paulistanos que deixariam a capital caso pudessem, conforme apurou o Ibope.

Talvez, esteja no time dos 87% que consideram São Paulo um lugar completamente inseguro para se viver.

Mas, afinal, como chegamos a esta situação caótica na maior cidade do Brasil?

Analisaremos questões específicas (enchentes, trânsito, segurança, entre outras) do processo de degradação da qualidade de vida em São Paulo.

Porém, comecemos pelo geral.


1) Sua angústia, paulistano, tem basicamente três motivos:

a) A incompetência, a negligência e a imperícia dos grupos que, há muitos e muitos anos, se apoderaram da máquina pública no Estado de S. Paulo. Aqui, o “capitão da província” é sempre da mesma tropa.

b) O sistema desonesto de blindagem e proteção dessas pessoas pelos veículos de comunicação, especialmente a Folha de S. Paulo, o Estadão, a Rede Globo e a Editora Abril, aquela que publica a Veja.

c) A vigência de uma filosofia de gestão pública que nem de longe contempla as necessidades humanas. O objetivo da máquina de poder, hoje, em São Paulo, é privilegiar uma pequena máfia de exploradores do Estado e da cidade. O governo dos paulistas e dos paulistanos exige demais, mas oferece de menos.

2) Em pleno século 21, os velhos políticos ainda administram São Paulo como coronéis de província. São tão arrogantes quanto preguiçosos.

a) Não temos um plano coordenado de construção de “qualidade de vida” na metrópole, que coordene ações na área de saúde, educação, cultura, transporte e moradia. Todas as outras 9 grandes cidades do mundo têm, hoje, grupos multidisciplinares trabalhando duramente em projetos desse tipo.

b) Não temos um projeto sério, de longo prazo, para reestruturação e racionalização da malha viária.

c) Não temos um sistema de transporte coletivo decente. Entre as 10 maiores cidades do mundo, São Paulo é aquela com o menor número de quilômetros servidos por metrô.


3) Por que a doce chuva virou sua grande inimiga?

a) Porque os governantes de São Paulo não pensam em você quando autorizam a construção de novos condomínios e habitações. Onde havia terra e árvores, passa a existir concreto. O solo não absorve a água, que corre desesperadamente para o Tietê.

b) Porque a prefeitura simplesmente abandonou os trabalhos de construção dos piscinões. Você tem medo de morrer afogado no Anhangabaú? Pois bem, os recentes dramas no túnel teriam sido evitados se José Serra e Gilberto Kassab tivessem seguido o projeto de construção dos reservatórios de contenção nas praças 14 Bis e das Bandeiras. Até o dinheirinho já estava garantido, com fundos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Mas os dois chefões paulistas consideraram que as obras não eram necessárias. Agora, você paga por este descaso.

c) Lidar com água, uma das mais importantes forças da natureza, exige pesquisa e conhecimento. Em São Paulo, as obras são feitas de acordo com o humor dos governantes, muitas vezes em regime de urgência. Na pressa, o resultado quase sempre é desastroso. No Grajaú, por exemplo, os erros de engenharia na canalização de córregos acabaram por gerar entupimentos, enchentes e destruição. As famílias da região perderam móveis, eletrodomésticos, roupas e alimentos. Ou seja, obra sem planejamento gera mais prejuízo que benefício.

d) São Paulo tem a sua Veneza. É o Jardim Romano, que vai afundando a cada enchente. Como se trata de periferia, a prefeitura simplesmente abandonou os projetos de drenagem e captação de águas. O resultado é água imunda dentro das casas, doença e morte. Para minimizar o problema, o governo do Estado resolveu lançar um “carro anfíbio”, apresentado com pompa pelo bombeiros. Será que, não satisfeitos com o estrago, ainda querem rir da cara do cidadão?

e) O descaso com a cidade pode ser provado facilmente. Um levantamento técnico mostra que o número de pontos de alagamento aumenta assustadoramente de ano para ano. Em 2007, a cidade tinha 9 pontos fixos de alagamento. No ano seguinte, já eram 43. Atualmente, há 152 lugares por onde o paulistano pode perder seu carro durante uma chuva. É isso aí mesmo: 152! Sem dúvida, anda chovendo bastante. Mas não se pode negar que problemas de escoamento estão gerando o caos em áreas antes seguras. É o caso da Avenida Brasil com a Alameda Gabriel Monteiro da Silva, nos Jardins. Quem podia imaginar que até mesmo a região nobre de São Paulo sofreria com alagamentos, lama e fedor insuportável?

f) O dinheiro que a Prefeitura gasta em câmeras, multadores automáticos e propaganda na imprensa poderia muito bem servir à erradicação de alguns desses problemas. No entanto, o drama da população parece não sensibilizar o prefeito nem o governador. Veja o caso dos alagamentos da Marginal Pinheiros com a Ponte Roberto Rossi Zuccolo. O problema já é grave, mas as obras nem foram contratadas, como admite a prefeitura. No caso da Zachi Narchi com Cruzeiro do Sul, na Zona Norte, a prefeitura limita-se a dizer que há um “projeto para futura implantação”. Tudo muito vago. Nenhuma pressa. No caso da Alcântara Machado (Radial Leste) com Guadalajara, a confissão oficial de incapacidade é assustadora: “as interferências não configuram possibilidades de obras para solucionar o caso de imediato”.

4) Por que São Paulo fede?

a) Porque a gestão Serra-Kassab simplesmente reduziu em cerca de 17% o investimento em varrição e coleta de lixo, especialmente na periferia. Aliás, limpeza urbana é algo que não se valoriza mesmo em São Paulo, vide as declarações do jornalista Boris Casoy sobre os garis.

b) Porque os projetos de coleta seletiva e de usinas regionais de reciclagem foram reduzidos, desmantelados ou sumariamente engavetados.

c) Porque a política de “higienização social” tem dificultado extremamente o trabalho dos catadores e recicladores.

d) Nem é preciso dizer que o lixo que se amontoa nas ruas da cidade vai parar nos bueiros. Vale notar que, nas enchentes, boa parte do lixo boiando está devidamente ensacado. Trata-se de uma prova irrefutável de que o “porco” nesta história não é o cidadão paulista, mas aquele que o governa.

5) Padarização: por que São Paulo é tão insegura?

a) O governo Serra praticamente sucateou o sistema de Segurança Pública. Paga mal os agentes da lei e ainda fomenta a rivalidade entre policiais civis e militares.

b) Em seu ímpeto privatista, o governo paulista incentiva indiretamente os empreendimentos de segurança particular.

c) Mal pagos, mal aparelhados e mal geridos, os policiais paulistas são o retrato da desmotivação.

d) Criou-se informalmente um sistema de “padarização” das patrulhas. Normalmente, os agentes da lei se mantêm na porta de uma padaria ou mercado, reduzindo drasticamente as rondas pelas áreas internas dos bairros. De certa forma, acabam se tornando uma guarda particular dos comerciantes locais. Esse fenômeno atinge não somente a periferia da Capital e de outras grandes cidades, mas também os bairros de classe média.

e) Essa mesma polícia invisível nas ruas, entretanto, ocupou o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) durante ato em defesa do Programa Nacional dos Direitos Humanos. Exigiam explicações sobre o encontro... Ora, que terrível bandido se esconderia ali? Ou será que voltamos à época da Operação Bandeirantes, que visava a perseguir os inimigos do regime militar?

f) Cabe dizer: o pouco que restou da Segurança Pública é resultado do esforço pessoal de policiais (militares e civis) honestos, dedicados, que ainda arriscam a vida para proteger o cidadão. Esses, no entanto, raramente são premiados por suas virtudes.

6) Politicalha na calçada, trânsito, impostos e desrespeito ao cidadão.

a) Sem qualquer fiscalização da imprensa, o governante paulista julga-se hoje acima da lei. Não precisa dar satisfações a ninguém.

b) É o caso da Calçada da Fama, já apelidada de Calçada da Lama, no bairro de Santa Cecília. Inspirada na homônima de Hollywood, foi condenada por todos os moradores locais. Mesmo assim, a prefeitura colocou 18 homens da Subprefeitura da Sé para trabalhar na obra (afinal, eles não têm bueiros para limpar). Cabe lembrar que os “testes” de homenagens foram realizados com a colocação de duas estrelas. Uma delas tinha o nome do ex-governador Geraldo Alckmin. A outra, do atual, José Serra, o único governador do Brasil que, entre amigos, se gaba de acordar ao meio-dia.

c) Para obras desse tipo, supõe-se, o prefeito Kassab busca um “aumentaço” no IPTU, tanto para imóveis comerciais quanto residenciais.

d) Cedendo ao cartel das empresas de ônibus, Kassab também decretou aumento nas passagens, de R$ 2,30 para R$ 2,70. A poucos metros da Câmara dos Vereadores, com bombas de efeito moral e balas de borracha, a polícia de Serra reprimiu violentamente os estudantes que tentavam se manifestar contra a majoração. Agressão desse tipo, aliás, já tinha sido vista na USP, em episódio que lembrou a invasão da PUC-SP por Erasmo Dias, em 1977.

e) Se o trânsito é cada vez mais caótico em São Paulo, raras são as ações destinadas a reformar a malha viária, revitalizar o transporte público e constituir um sistema inteligente e integrado de locomoção urbana. Os técnicos da Companhia de Engenharia de Tráfego ainda planejam suas ações conforme modelos da década de 60. A obsolescência no campo do conhecimento é a marca da gestão da CET.

f) Se o tráfego paulistano é um horror, confuso e mal gerido, o mesmo não se pode dizer da indústria de multas. Em 2009, foram arrecadados R$ 473,3 milhões, valor maior do que o orçamento de cinco capitais brasileiras. Só 62 municípios do Brasil recebem, entre todos os tributos, aquilo que o governo paulistano obtém com esse expediente punitivo.

g) Com esse valor, seria possível instalar 2 mil semáforos inteligentes (raros aqueles em perfeito funcionamento na cidade) e 40 terminais de ônibus.

h) Curiosamente, se falta dinheiro para a reforma dos equipamentos de controle de trânsito, sobra para a compra de radares e aplicadores de multas. Foram 105 novos aparelhos em 2009. E a prefeitura projeta a instalação de pelo menos mais 300 em 2010.

i) Se os radares estão atentos ao motorista, dispostos a lhe arrancar até o último centavo, também é certo que não há olhos para as máfias de fiscais nas subprefeituras, especialmente na coleta diária de propinas nas áreas de ambulantes. Em 2008, membros da alta cúpula da subprefeitura da Mooca foram protagonistas de um escândalo, logo abafado pela imprensa paulistana. Hoje, os esquemas de cobrança ilícita seguem firmes e fortes. Faturam milhões, à luz do dia, na região do Brás, da Rua 25 de Março e da Lapa, entre outros, conforme denúncias dos próprios camelôs.

7) Até para fugir, o paulistano pagará caro... Dá-lhe pedágio!

a) Alguns governantes tornam-se conhecidos por construir estradas. Outros, por lotá-las de pedágios e fazer a festa de seus apoiadores de campanha. É o caso de José Serra. Em média, um novo pedágio é implantado em São Paulo a cada 30 dias. O ritmo de inaugurações deve crescer em 2010. Somente nas estradas do litoral, o governador quer implantar mais dez pedágios.

b) José Serra desistiu temporariamente de sua ideia obsessiva de implantar pedágios também nas marginais do Tietê e do Pinheiros. O desgaste político poderia inviabilizar, de uma vez por todas, seu projeto de ocupar a presidência da República.

c) Fora dos centros urbanos, entretanto, a farra do pedágio continua. Em Engenheiro Coelho, na região de Campinas, por exemplo, uma família já precisa pagar pedágio para se deslocar de um lado a outro de seu sítio, cortado pela rodovia General Milton Tavares de Souza (SP-332). Agora, para cuidar do gado, os sitiantes precisam pagar a José Serra e seus amigos da indústria do pedágio. Nessa e em outras cidades, o cerco dos pedágios deixam “ilhados” moradores da zona rural e de condomínios habitacionais. Nem mesmo o “direito de ir e vir” é respeitado.

Como resgatar São Paulo

Nos últimos anos, São Paulo vem sendo destruída e seus cidadãos humilhados. Está perdendo seu charme e carisma. Aumenta-se a carga de impostos, ao passo que os direitos básicos do cidadão são negados pela autoridade pública.

Mas nada comove a imprensa surda, muda e partidarizada. As enchentes, o lixo acumulado, as obras inacabadas, o apagão no trânsito, a fábrica de analfabetos do esquema de “aprovação automática”, as máfias de propinas, a falta de segurança e a fábrica de multas não sensibilizam os jornalistas.

A ordem nas redações é botar a culpa na sorte, nas gestões anteriores ou em São Pedro. Nenhuma tragédia é atribuída aos governantes locais. Jamais.

Quando a cratera do metrô engoliu trabalhadores, pais e mães de família, a imprensa silenciou sobre a culpa daqueles que deveriam fiscalizar a obra.

E o prefeito Gilberto Kassab ainda se divertiu, transformando a tragédia alheia em piada. Nem a Folha nem o Estadão escreveram editoriais indignados sobre o episódio.

A imprensa também se fez de boba quando a ponte do Rodoanel desabou sobre a pista, destruindo veículos e ferindo pessoas.

Aliás, os jornais estampam enormes manchetes quando se constata qualquer atraso em alguma obra do PAC. Mas não encontram relevância no atraso das obras do Rodoanel.

Já são doze anos de embromação, casos de superfaturamento e destruição do patrimônio natural nos canteiros de obras.

Na Capital, José Serra e Gilberto Kassab criaram fama ao inventar a lei “Cidade Limpa”, uma restrição sígnica ao estilo “talebã” que deixaria os habitantes de Nova York e Tóquio perplexos.

Eliminaram praticamente toda a publicidade local e, automaticamente, canalizaram milhões e milhões de Reais para jornais, TVs, rádios e portais de Internet. Um golpe de mestres.

Portanto, aquele que sofre diariamente em São Paulo precisa urgentemente revisar seus conceitos políticos, reeducar-se para a leitura dos produtos noticiosos e mobilizar-se para viabilizar a urgente mudança. Se São Paulo pode ser salva, será você, paulistano sofrido, o artífice dessa proeza.

* Mauro Carrara é jornalista, paulistano, nascido no Brás, em 1939.
Fonte: Viomundo