sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Por que Dilma cresce e Serra cai


Carta Capital 


Todas as pesquisas estão mostrando que a tendência revelada inicialmente pelo Vox Populi estava correta. Dilma está crescendo nos últimos dias e Serra está caindo
Estive conversando com o prefeito Ary Vanazzi, coordenador executivo da campanha Dilma no Rio Grande do Sul  desde o primeiro turno. Tarso Genro, eleito governador, assumiu a coordenação política da campanha neste segundo turno, mas Vanazzi  continua na linha de frente. Ele me deu alguns dos motivos para a vitória de Dilma. “Primeiro, estamos tendo uma mobilização social e política espontânea para combater o obscurantismo”, afirmou. “Segundo, a gente ampliou muito a  campanha e hoje temos 80% das forças políticas atuantes no Rio Grande do Sul com a Dilma. Nós vencemos no primeiro turno e agora podemos ampliar a vantagem.”
Quando se trata de votos, Ary Vanazzi sabe do que está falando. Prefeito de São Leopoldo, cidade da região metropolitana de Porto Alegre, Vanazzi é uma espécie de Lula do município. Foi reeleito com 80% dos votos, governa com sete partidos e tem trânsito fácil com todos prefeitos do estado, independentemente de sigla partidária.
O desespero do marketing de Serra
Os erros na campanha Serra são muito grandes. O episódio da bolinha de papel revela o desespero de seus marqueteiros. Ao verem a derrota a sua frente, estão tentando de qualquer forma construir fatos que possam mudar as tendências.
Na passagem para o segundo turno, a direita serrista trouxe seu arsenal tradicional. Aborto, criancinhas, Deus, terrorismo, ética na política…. Serra é do bem, todo o resto é do mal. Uma receita lacerdista completa.
Serra, que no primeiro turno era um candidato de centro-direita, aliado com a direita, e que buscava o apoio do centro, no início do segundo turno jogou-se, literalmente, nos braços dos demos e passou a se apresentar  como o baluarte da direita radical. Diante de uma campanha Dilma paralisada nos primeiros dias do segundo turno, a linha “agressiva de direita”  de Serra pareceu fazer sucesso e ganhar apoiadores. Seus marqueteiros confundiram o crescimento natural do segundo lugar que vai para o segundo turno com adesão ao discurso de campanha rebaixado e obscurantista.  
Na verdade, a agressividade de sua campanha, combinada com a fragilidade de seu discurso, acabou afastando do tucano o eleitor que estava em dúvida entre Dilma e Serra.  Ao invés de crescer, Serra estava afastando o eleitor de centro e empurrando-o para votar em Dilma. Além disso, a  defesa da ética na política por parte de Serra começou a ser desnudada pelo episódio Paulo Preto. Logo a seguir veio a contratação da filha de Paulo Preto em seu gabinete. E o tema do aborto fez água quando foi divulgado que sua mulher praticou o ato com seu consentimento… Um por um, todos os pilares do discurso de Serra foram sendo derrubados pela revelação de fatos concretos de sua trajetória.    
Ao mesmo tempo que havia estes erros na campanha de Serra, a campanha Dilma conseguiu reagir. Primeiro, a própria Dilma foi para o ataque no primeiro debate. Ali, a militância lulista que ainda podia ter dúvidas quanto a disposição e qualidade da candidata, sentiu firmeza e capacidade de liderança em Dilma. Depois, foram feitas uma série de ações positivas. A mobilização dos governadores eleitos, da cultura, da sociedade, com o lançamento de inúmeros manifestos de apoio, a revelação dos podres do adversário…. Tudo isso construiu uma base de reação que conteve e reverteu o ataque direitista raivoso da campanha Serra.
Nos últimos dias, o que temos assistido é o mais puro desespero na campanha tucana. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, veio atacar o Vox Populi, depois atacou Lula…. Na entrevista na Globo, Serra mais pareceu candidato a Papa que a presidente. Parecia um santo. Neste contexto, a bolinha de papel foi o desdobramento da entrevista. Já era preciso tentar construir uma reversão das tendências de qualquer maneira.
Penso que não deu certo. Nem mesmo a tentativa da Globo desta quinta feira a noite, apresentando um segundo objeto “transparente” (Muito apropriado isso de ser transparente, não é verdade? Assim não dá pra ver, não é mesmo?), pode reverter mais o efeito Rojas na imagem de Serra. O mais provável é que o tucano continue caindo ainda mais nos próximos dias. Mas todo cuidado é pouco.
Quando pousou de santo na entrevista da Globo, Serra também tentou combinar isso com a defesa da continuidade de Lula e com propostas sociais agressivas, como o 13º para o Bolsa Família e outras. Ou seja, a operação de marketing do Serrarojas já tinha um norte claro: era preciso rapidamente reposicionar o tucano não mais como aríete dos demos, mas como um candidato de continuidade do que Lula tem de bom  e ao mesmo tempo vítima dos radicais do PT ….
A busca dos candidatos desesperados para tentar, diante de uma derrota certa, retirar a campanha do terreno da política e colocar no terreno emocional é recorrente na política brasileira. No ambiente ainda autoritário do Brasil, a cada eleição, seja ela municipal, estadual ou nacional, os atores em desespero tentam sempre a mesma jogada.  Querem, num golpe de mão, numa dramatização midiática, roubar a cena, deslocar o adversário e vencer a eleição.
Nos próximos dias, é preciso ter muito cuidado. Penso que a campanha Serra não tem limites. Os tucanos são capazes de fazer qualquer coisa. São capazes de realizar atentados, se for o caso. A campanha Dilma tem razão. Eles estão atrás do Pré-Sal. Querem a riqueza do Brasil de volta pras mãos deles. E  contra isso só há um remédio: defender a Dilma de modo tranquilo, sereno, com argumentos, sem xingar o adversário, identificando as dúvidas e angústias de cada eleitor em particular e trazendo todos para  o lado do Brasil que quer seguir mudando.
No próximo dia 31, não basta vencer. É preciso vencer bem, com uma grande margem de votos. Do contrário, teremos um governo Dilma acossado pelo PIG e com audiência.
Os números da vitória
Nunca esqueça. Pesquisa não ganha eleição, o que ganha é voto na urna. Portanto, não dá para diminuir o ânimo. Mas as tendências são claras.
Desculpe despejar aqui tantos números, mas é preciso.
Gráfico compara dados entre os institutos de pesquisa

Os números levados em conta são sempre os válidos. Conforme o Vox, Dilma subiu de 55 para 57% e Serra caiu de 46 para 43 entre os dias 11 e 18. O Sensus do dia 19 mostra a mesma tendência. Dilma subiu de 52 para 53% e Serra caiu de 48 para 47%. Já no Ibope, divulgado dia 20, o crescimento é bem maior: Dilma subiu de 53  para 56 dos votos válidos e Serra caiu de 47 para 43.  O único instituto que não havia mostrado foi o Datafolha, com os mesmos 54 para Dilma contra 46 para Serra divulgados dia 08 e dia 15. (Ver números desde dia 22, que também confirmam a tendência).
De fato, houve um momento em que, aparentemente, a campanha do tucano poderia ter crescido e  ultrapassado Dilma. As pesquisas revelam que esse momento foi por volta do dia 13. De lá para cá, Dilma reagiu e Serra caiu ou estagnou.
Na média de todos os quatro institutos, a diferença neste dia 20 era de 10%. Até dia 31, são mais dez dias de combate. Os tucanos têm de fazer pelo menos meio porcento dos votos dos brasileiros por dia, se quiserem vencer. Os apoiadores de Dilma, com gordura para gastar,  precisam apenas resistir. 
Penso, todavia que não é isso que vai acontecer. A campanha tucana, nos próximos dias, vai ficar cada dia mais nervosa e desesperada, enquanto o eleitor, calma e serenamente, vai atender ao chamado de Lula. O eleitor brasileiro vai votar em Dilma.
Estava escrito. Vai acontecer.


Como a Globo manipulou o “atentado” a Serra no Jornal Nacional

Portal Terra

Foi mais ou menos como num jogo de futebol: o zagueiro encosta no atacante, o atacante se atira dentro da área, rolando, se contorcendo, na esperança de que o árbitro apite um pênalti. 

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa

Mas as câmaras são soberanas. Elas mostram que o zagueiro mal tocou no centroavante, que o atacante se atirou, que não está machucado, que está simulando. Ainda assim, alguns narradores gritam: "Pênalti!". E no dia seguinte, os analistas vão bater boca o dia inteiro: foi, não foi, o juiz acertou, o juiz roubou.

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Na cena reproduzida pelo Jornal da Record, o candidato José Serra vem caminhando, sorridente, pela rua do comércio de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. Vem cercado de correligionários e seguranças. Mais adiante, seu caminho está bloqueado por uma passeata de petistas, que podem ser identificados por suas bandeiras vermelhas.

A comitiva do candidato oposicionista segue na direção dos adversários, arma-se um rápido entrevero, no qual um petista é agredido por três acompanhantes do candidato Serra, que está abrigado à porta de uma loja.

Apartam-se as brigas, Serra retoma a caminhada.

Então, alguma coisa o atinge na cabeça.

Pela câmara da TV Record, observa-se que o candidato apenas passa a mão na cabeça, constatando que não está ferido. É levado, então, por seus acompanhantes para um hospital.

Corta para o médico que o atendeu. A frase é clara: ele não tem nem um arranhão. A reportagem esclarece: o candidato foi atingido por um rolinho de plástico, um desses adesivos de campanha amarrotado.

Agora, a mesma cena no Jornal Nacional, da TV Globo: tudo quase igual, exceto no momento em que José Serra é atingido. Substitui-se, então, a imagem em movimento, que mostra apenas um susto da vítima, por uma fotografia, tirada de cima para baixo, de efeito muito mais dramático.

Quando chega o trecho da entrevista do médico, sua voz desaparece e em lugar da versão oficial do hospital entra o locutor, que apaga a informação de que o candidato não sofreu sequer um arranhão e a substitui por uma versão mais grave. A encenação se completa com o candidato sendo entrevistado, sob uma tensa luz azulada, com olhar de vítima.

Simulando uma contusão

O episódio, condenável sob todos os aspectos, deve, no entanto, ser visto como resultado da irracionalidade e radicalização da campanha eleitoral. Mas as versões apresentadas pela imprensa merecem uma análise à parte.

Uma curiosidade: quem teria descido do Olimpo global para comandar a edição de tão importante reportagem? Que critérios do manual de ética e jornalismo da Rede Globo foram brandidos para justificar a transformação de um episódio banal, mais do que esperado no ambiente de conflagração que os próprios candidatos andaram estimulando, em uma crise republicana?

As evidentes diferenças nas edições do Jornal Nacional, muito mais dramático, e do Jornal da Record, que tratou o episódio com mais naturalidade, sem deixar de condenar os excessos de militantes, têm a ver com jornalismo ou com engajamento eleitoral?

No boletim online do Globo, distribuido às 14h18 da quarta-feira, "Serra é agredido durante enfrentamento de militantes em ato de campanha no Rio".

Na edição de papel, primeira página do Globo, "Serra é agredido por petistas no Rio". No complemento, a informação alarmante: por orientação médica, o candidato cancelou o resto da agenda e submeteu-se a uma tomografia num hospital da Zona Sul.

Título na primeira página do Estadão: "No Rio, petistas agridem Serra em evento".

Na Folha, em foto menos dramática, "Serra toca local em que foi atingido por um rolo de adesivos…"

Quanto pesa um adesivo de campanha enrolado? Cinco, dez gramas?

E a tomografia? É resultado da conhecida hipocondria do ex-governador ou parte da estratégia para transformar um episódio grotesco e banal em atentado político? Como uma bolinha de papel, dessas que os alunos atiram uns nos outros nas salas de aula, poderia virar motivo de comoção nacional?

Em seu artigo na edição desta quinta-feira [21/10] da Folha de S.Paulo, a colunista Eliane Cantanhêde transforma o projétil de papel em "bandeirada" na cabeça e afirma que José Serra, literalmente, apanhou na rua.

Quanto vale um jornalismo dessa qualidade?

A chamada grande imprensa perdeu completamente as estribeiras.